O Andes de costas para as eleições contra Bolsonaro!
26 de julho de 2022
Imprensa da ADUR-RJ
Às professoras e professores da Universidade Federal Rural do RJ:
O 65° Conselho de Seções Sindicais do Andes-SN (65° CONAD) reuniu-se no fim de semana de 15 a 17 de julho em Vitória da Conquista – BA. O que chamou atenção foi a ausência, por parte da diretoria do Andes-SN, quanto ao debate do tema das eleições para Presidente da República que ocorrerão em outubro. Nenhum Texto de Resolução (TR) foi proposto pela diretoria nacional. Não precisamos reforçar a centralidade dessa eleição, que vai ocorrer no período mais obscuros desde a volta da redemocratização do país. E aí o questionamento que se coloca é se este assunto não seria relevante diante dos ataques que as universidades públicas têm enfrentado para se manterem pública, gratuita, laica e socialmente referenciada.
Mas se a diretoria do sindicato não deu a devida importância para esta pauta, professores que fazem parte do Renova Andes apresentaram uma proposta que indicava o reconhecimento de que Lula é o único candidato do campo popular progressista capaz de derrotar o fascismo encabeçado pelo Bolsonaro. O TR 9 : “O ANDES-SN Tem o Direito de Ficar Indiferente às Eleições de 2022?”, único a tratar do tema, propunha que fosse enviada uma carta-compromisso com demandas da educação, dos docentes do Ensino Superior e da carreira EBTT para ser entregue apenas para o ex-presidente Lula. O TR foi debatido nos grupos de trabalho, mas foi levado ao pleno apenas no terceiro dia e por menos de 30 minutos da Plenária Final do CONAD. O resultado foi “Que o 65º CONAD delegue à diretoria do ANDES-SN a elaboração de uma carta de reinvindicações à(o)s presidenciáveis, com exceção do atual presidente da República, com a pauta da categoria docente seguindo os eixos do Caderno 2, com destaque para a política de financiamento e para a política de ações afirmativas”. Ou seja, a retirada de todas as propostas feitas pelo TR 9, a não discussão e delineamento de propostas claras pelos representantes das ADs e o encaminhamento para todos os candidatos, exceto Bolsonaro, de uma carta a ser escrita exclusivamente pela diretoria.
Concretamente a diretoria do Andes não dedicou nenhum esforço, nem com proposta e nem com tempo na condução do Conad, para um debate profundo sobre eleições. Na rápida discussão da Plenária Final, a principal argumentação de representantes da diretoria, dentre outros que somaram os 22 votos, contra as 11 associações docentes que defenderam a carta apenas para o Lula, foi de que o Andes como sindicato autônomo não pode se manifestar em processos eleitorais. Houve quem defendesse incluir o Bolsonaro dentre os signatários. Colegas presentes corretamente defenderam que Bolsonaro ganhou em uma eleição ilegítima com Lula preso. Prisão sobre a qual a mesma direção do Andes pouco se manifestou e nada se mobilizou. A Adur participou intensamente do debate com 1 delegada (Elisa Guaraná) e 6 observadores (Rubia Wegner, Patricia Bastos, Carlos Domingos, Regina Cohen, Ricardo Costa e Andrea Sampaio).
A professora Elisa Guaraná, presidente da Adur, se manifestou reforçando a autonomia do sindicato frente às eleições ordinárias, mas que em casos excepcionais precisamos sim nos manifestar. “Autonomamente como Sindicato Nacional precisamos entender a gravidade do momento. O sindicato não se expressa comumente em situações eleitorais, mas nesse caso excepcional nós temos que nos manifestar dizendo que o sindicato compreende o momento grave da cena política nacional.” E reafirmou que a disputa ainda está em aberto. Que o segundo turno pode trazer mais violência política e mesmo assassinatos. “Podemos ter um segundo turno por 1 ou 2 %. Alguém aqui quer um segundo turno? Eu não quero! O que será um segundo turno com Bolsonaro, sua milícia e a máquina do Estado nas mãos?” Lembrou que sindicatos nacionais e federações, como a Fasubra, entenderam a gravidade do momento e se manifestaram pelo apoio a Lula no primeiro turno. E perguntou se não seria um ou mais projetos partidários que estariam influenciando essa defesa incondicional de “autonomia”. Portanto, podemos sim dizer que a direção do Andes-SN toma partido. Não de uma suposta autonomia, termo surrado e usado para esconder toda vez que temas fundamentais da política nacional se apresentam, como o Golpe, a prisão do Lula e agora uma eleição contra o fascismo, que precisamos ganhar sim no primeiro turno. Isso não é autonomia. É não se posicionar em momentos fundamentais para os rumos da democracia e da educação no país.
Ao defender “a carta para todos os presidenciáveis”, que aliás nos remete ao “Fora Todos” da época do Impeachment, a direção do Andes defende um ou mais projetos partidários que não acham importante a unidade do campo progressista no primeiro turno. Esses projetos são legítimos na disputa partidária e passarão pelo escrutínio da população brasileira.
Mas ao não defender nenhuma sinalização, mesmo que simbólica, para categoria de que Lula é o candidato que pode enfrentar e ganhar Bolsonaro no primeiro turno, manda o recado oposto: a eleição não é a prioridade do Andes-SN e o primeiro turno não tem relevância.
Não podemos deixar de registrar a postura desrespeitosa da diretoria do Andes ao marcar o 65° Conad para a mesma data do CONAPE- Conferência Nacional Popular de Educação que ocorreu em Natal-RN, e reuniu mais de 48 entidades e cerca de 1.800 delegados de todo o país da educação básica e superior, incluindo representantes de várias seções sindicais do Andes-SN. A Adur em Assembleia Geral indicou um observador.
Colegas e ADs que estão manifestando sua indignação nas redes contra essa posição do Andes de não apoio ao Lula o fazem, como a Adufrj, porque o Andes, em seu Conselho deliberativo, a pouco mais de 70 dias da eleição, dedicou nada do seu tempo para um debate aprofundado e com algum direcionamento político para as eleições de vida ou de morte para a educação brasileira.
A atual diretoria do Andes-SN não tinha interesse em realizar uma discussão ampla e irrestrita sobre a relação do destino do país e o ensino superior com os 197 participantes do encontro (59 delegados (as), 109 observadores (as), 7 convidados (as) e 26 diretores e diretoras do ANDES), já que este tema só foi discutido “aos 45 minutos do segundo tempo” e ao final foi aprovada a Carta de Vitória da Conquista, proposta pela diretoria. A Carta mostra total desprezo pela luta eleitoral que se aproxima, ante a iminente possibilidade de derrotar Jair Bolsonaro e barrar o caminho do golpe de Estado que ameaça o país, salvo uma genérica passagem que diz: “derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas”.
Para a diretoria da ADUR-RJ esta postura de “neutralidade” – do maior sindicato docente do país que hoje reúne cerca de 70 mil filiados – não condiz com a realidade política do país, pois o que está em jogo neste pleito é se interromperemos ou não a escalada do bolsonarismo, o desmonte do Estado brasileiro, incluindo a cruzada ideológica de Jair Bolsonaro contra a educação pública e laica e à ciência.
Fica a pergunta: se sindicato autônomo não pode “se meter em eleição” mesmo contra o fascismo, o que será que o Andes-SN fará em um segundo turno? Esperamos não precisar responder a essa pergunta. As trabalhadoras e os trabalhadores, e em especial da educação, não aguentam mais!
Temos a convicção de que a maioria da categoria vai responder nas urnas, como vem fazendo no seu dia a dia de luta, para acabar com este governo. Mesmo porque O Andes somos todos e todas nós!
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